Dia das mães e as razões pelas quais eu não poderia deixar de ser (realmente) filha da mãe que tenho

   O dia das mães acaba de acabar. 
   Duas horinhas atrás era o dia dela: da pessoa que te assiste desde os primeiros passos, primeiras palavras primeiros gestos e tentativas de comunicação e entendimento desse mundo doido. Duas horinhas atrás era dia de celebrar a importância e essencialidade dessa mulher na vida de cada um de nós. Duas horinhas atrás era o dia de entregar presentes, mimar e agradecer. Duas horinhas atrás era dia da pessoa mais importante na vida de qualquer ser humano.
   Não sei como é ser mãe (ainda sou nova demais para tal feito), mas imagino que não deva ser fácil. Educar, entender e aturar - sim, aturar, porque só nós sabemos quanto conseguimos ser pouco tolerantes (por vezes insuportáveis) com elas - uma pessoa completamente dependente de ti e dos teus ensinamentos... Uma responsabilidade e tanto! 
   Minha mãe, por sua vez, sabe bem como é ser filha. Já foi um dia uma com a minha idade, hoje é outra - mais madura e consciente. Apesar das diferenças entre meu tempo como filha e o dela, ainda assim há muito em comum entre nós - mais até do que (principalmente quando brigamos) queremos admitir. Como confirmam os ditados populares por aí: filho de peixe, peixinho é; e, bem, eu não poderia deixar de ser filha da minha mãe.
   Somos ambas de um nível de teimosia que, como se pode imaginar, acaba sempre em concordância, admiração ou guerra. Somos ambas tão sonhadoras que, como é de se esperar, há sempre algo mais a conquistar. Somos ambas de gostos tão parecidos e peculiares que, como se deve acreditar, muitas vezes não sabemos se desgostamos tanto porque realmente não agrada, ou porque agrada demais. Somos ambas um misto bem doido de coisas uma da outra. Isso, claro, sem mencionar as semelhanças físicas... Essa lista conta com sardas, cabelos rebeldes, boca grande, olhos pequenos, bochechas salientes, nariz arrebitado e por aí vai (se realmente enumerar todas elas, falta espaço e característica).
   Como mãe, há muito nela que não vejo em mim - e acredite você - gostaria de ser. Determinação, sinceridade e perspectiva são algumas delas. Quem dera um dia eu ser tal qual ela. Em dado momento da vida, passados os anos de dependência da infância e os de rebeldia da adolescência chega, sorrateiramente, a época em que não há como se olhar no espelho sem ver traços dela, não há como não encontrar semelhanças cotidianas nos gostos, atitudes e trejeitos, não há como não desejar um abraço e um beijo de boa noite. A gente cresce e, embora busque por independência e caminhos próprios, acaba se tornando mais necessitado ainda dos afagos e afetos da mãe que nos criou, ama e com quem tanto divergimos.
   Ah, as divergências! Obviamente que nem tudo são flores. Convivência é sempre complicada, não importa quem seja a pessoa com quem se convive: por que com as mães seria diferente? Todos os dias, de todas as semanas, de todos os meses, de todos os anos... É muito tempo convivendo! Brigamos (e como brigamos!): eu e minha mãe vivemos mais em pé de guerra que em tempos de paz e por mais louco que isso seja - e por pior que pareça - funcionamos assim. Somos seres de opiniões tão fortes e tão convictas do que pensamos que, inevitavelmente, há discussão e desencontro de ideias. Diversas são as situações que levam a isso - personalidades fortes, opiniões contrastantes, mau entendidos, uma visão diferente de mundo -, mas não me importo. Gosto de discutir com quem sabe argumentar e minha mãe é dessas. A verdade é que com uma tarefa tão árdua quanto tornar alguém um ser humano decente, em meio a essa realidade caótica, eu não acho errado que ela brigue comigo e tente mostrar outras formas de fazer das coisas, certas. Admiro o fato, de mesmo com tantas desavenças, nunca desistir de mim.
   Minha mãe foi - e é - desde que me conheço por gente pai e mãe. Sempre colocando os filhos e suas necessidades acima das suas próprias, sempre fazendo o máximo possível - por vezes mais que isso - para que não falte nada, não existam problemas ou situações desconfortáveis. Minha mãe é uma daquelas que quer saber onde vai, com quem e quando volta: tim tim por tim tim. Minha mãe é daquelas que não suporta que os filhos sejam levianos ou mal educados. Minha mãe é daquelas que - mesmo com seu mundo despedaçando - ainda consegue oferecer um conselho sábio e objetivo e um colo nas situações de maior fragilidade. 
   Só tenho a dizer, após toda essa introdução, que sou grata por ter a mãe que tenho - e sim, muito apaixonada por ela (paixão dessas de amores arrebatadores). Há religiões que acreditam que antes de nascer somos nós os responsáveis por escolher as mães que nos carregarão e educarão nessa terra; uma escolha arbitrária e pessoal. Devo dizer que nunca na vida achei que tivesse tão bom gosto. É como mencionei ali em cima: se um dia eu for metade da mãe e mulher que a minha é, bem, serei realizada como pessoa.

Beijos,









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