Abas


   O curso online eu mal comecei. Minha matrícula vence em duas semanas. O curso presencial, eu não tenho certeza se faço, porque exige o agora e eu estou presa demais ao amanhã. Clico tão rápido que mal acompanho o raciocínio consecutivo a cada uma dessas informações. Estou em busca de algo, mas não sei nomear o que procuro: se a mim mesma, o esforço tem de ser maior que isso. Considero as possibilidades sem fim em que me encaixo, viajando para lugares tão distantes com apenas mais alguns cliques no mouse. Estou planejando anos, anos à frente de mim, ainda incerta sobre o que fazer com esta tarde monótona, mas crente de que logo estarei lá, pronta, a realidade de cada uma destas imagens virtuais rodeando minha percepção. Visualizo uma carreira acadêmica, uma experiência sabática, uma vivência longínqua mais empática. Vislumbro pedaços, detalhes destes futuros: diploma emoldurado na parede de um apartamento pequeno em uma rua silenciosa, o fogo de uma lareira desnecessária em uma cidade tranquila, um cachorro e um gato a me esperar na porta após a jornada de realização a que atendo no emprego ao qual aspiro. A vida nômade de quem quer abraçar o mundo, viver sem estabelecer raízes, tendo como parâmetro apenas a última experiência vivida em um carro transformado, vivendo à margem, cidadã do mundo. Coletora de histórias, ativista engajada, materialista enrustida, ou completamente desapegada? Então, o grito:

   - Filha, vem cá!

   A realidade toma conta, impiedosa. Diante de um computador antigo, cuja tela zune, tantas abas abertas quanto as opções que considero. Nenhuma delas veste o momento que vivo neste exato instante. Eu sou apenas isso agora e decepciona pensar que posso ser este tanto, este mínimo, ainda por uma eternidade. Levanto da cadeira a contragosto, desejosa pela fantasia do que não me cabe. Que magia é esta que exerce em nós o que ainda não é em prol do que já está? Encaminho o mouse ao x no canto da tela, pronta para encerrar esta visita vaga a uma eu que desconheço, mas não clico. Saboreio dentro de mim a infinitude que sou por não saber. Tento sorrir. É possível que uma destas seja eu, é possível que não. Há certo charme em não saber para onde levam as curvas de uma estrada, embora exista enorme receio em de que esta mesma estrada exija paradas longas, solitárias. Ambição demais? Ou todas as conjecturas são muito menos do que eu deveria almejar? Tudo parece estar ao alcance das mãos e, ainda assim, inacessível. Sinto um aperto no peito, e deixo que os questionamentos formem pilhas: como ser adulta sem ter aprendido a aceitar os limites no mundo? Como sonhar com tantas fronteiras intransponíveis? É possível decidir diante de inúmeras impossibilidades? Há o bastante em mim para tal?

   - É pra hoje!

   De fato. E talvez por isso seja tão difícil.


leiaseJella
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